terça-feira, 9 de novembro de 2010

O dia de amanhã

- De repente, eu acordo, e me vejo com 83 anos. Um sonho? Não, completamente o contrário. E o que antigamente, lá pelo começo dos anos 2000 parecia ruim, piorou.
            Em pleno ano de 2075 o mundo vive abalado, porém, um pouco aliviado com o final da 3ª Guerra Mundial. O motivo dela? A água. E o pior de tudo, é que o Brasil que tem água em abundância foi o que mais sofreu.
            Cidades destruídas, famílias horrorizadas e a nossa honra arruinada. “Verás que um filho teu não foge à luta”, não foi bem isso que se viu nesse momento de terror. Quem tinha dinheiro saía do Brasil, ia para o exterior assistir pela televisão essa atrocidade. Enquanto que o povo brasileiro, o povo sofrido mesmo, se defendia como podia. Dava o seu jeito de sobreviver como sempre fez. Até porque se fosse para fazer um manual de sobrevivência, qualquer brasileiro colocaria aqueles apresentadores da Discovery e afins no chinelo.
            Realmente o que me deu uma lástima de esperança nesse triste período, foi ver esse povo se ajudando como podia. Pensava que o homem estava perdendo seus princípios. Perguntava-me até quais eram os princípios humanos. Quem é o homem na sua essência? O bem ou o mal iria prevalecer no caos? Enfim, eu vi um povo solidário até nos aparentes últimos momentos. Pessoas se doando pelos outros. Seria a fé do brasileiro? Seria a esperança de algo maior pra depois dessa vida? Pouco importa. O que fazia sentido naquele momento era ver que ainda temos chance. Temos chance de um mundo mais humano, mais altruísta, mais nosso, mais de todos.
            Eu me vejo aqui deitado nessa cama de hospital, enquanto um robozinho simpático vai colocando uma perna mecânica em mim. Foi triste acordar sem uma perna, depois de ver a minha casa derrubada por uma bomba. A minha velha não teve a mesma sorte, Deus escolheu ela pra viver melhor e mais tranquila ao lado Dele. Enquanto que para mim, Deus enviou um anjo numa roupa de bombeiro, que me tirou dos destroços e salvou minha vida.
            Um triste fim pra um velho como eu. Já não sei o que fazer sem minha companheira, sem nosso lar que nos abrigou durante nossos 61 anos de casado, que guardava todas nossas lembranças, histórias de vida. Todo o material da nossa história agora se limita a minha já fraca memória. Estou realmente confuso.
Porém, seria muita injustiça com aqueles que me salvaram se eu deixasse de viver a vida e de sorrir. Sei que me falta pouco tempo, mas nunca é tarde pra recomeçar. E depois de tanta destruição é tempo de recomeçar. Vou me fazer útil até o meu último suspiro, parafraseando Raul sei que minha cabeça não vai agüentar se eu parar. Tenho tanto pra ensinar, tanto ainda para aprender. Quero viver!
Sinto minha cruz pesando cada vez mais. Mas serei forte pra conseguir carregar todo esse sentimento de perda e de dor. Pois o homem que se prende ao passado é infeliz no presente, pois passado é para se recordar não para viver.

4 comentários:

  1. Já estou agendando pra 2014, a festa do casamento....
    e uma pergunta... ficaste de cabelo branco??
    e o pai.... ainda tava vivo???

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  2. poxa vida, assim vais casar antes de mim pelo visto huiahiuahuai :P
    Muito legal a cronica, tu realmente leva jeito pra coisa. Continua assim maninho!
    beijao

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  3. Ei guga....beleza de texto. Gostei...
    Permita-me fazer um adendo:
    qual é a lógica do tempo? seria a pausa do retrato, o alcance da promessa, ou ainda como dizia einsten, a relatividade. Bom, considerando que cada momento carrega uma morte em si, podemos dizer que ressuscitar, como você mesmo disse, é algo fundamental.
    Já que você está pendendo para reflexões filósoficas, vale a pena ler a Teoria Do Devir..
    grande abraço..
    Sempre que tiver tempo vou postar alguma coisa por aqui,...
    abraços...

    Seu ex-professor de Filosofia. hehe

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