quarta-feira, 29 de setembro de 2010

Descascando a Laranja Mecânica

A obra Laranja Mecânica, escrita em 1962 por Anthony Burgess, traz consigo uma originalidade e um brilhantismo sem igual. Nesse livro, Burgess retrata uma Inglaterra futurista infestada de gangues e violência. E é nesses pontos que a Laranja Mecânica se destaca de outras ficções científicas, pois aproxima de uma realidade bastante perceptível para o leitor.
Ao ler a obra, é inevitável não se surpreender com o protagonista Alex. O jovem conta sua história de maneira bem informal, aproximando ainda mais o leitor do livro, deixando-o, praticamente, íntimo de Alex.
Alex, de fato, é um jovem muito controverso e altamente complexo. Tem os princípios de um revolucionário, louco, gênio, mas para o Estado ele é só mais um perturbador da ordem e para a sociedade não passa de um jovem mal educado e ingrato aos pais. Na verdade, Alex é mais um que não se encaixou na sociedade, não compreendeu as regras ou simplesmente ignorou-as. Como diria Raul Seixas “Ninguém é igual. Mas a civilização, através dos séculos, não respeitou a integridade do homem, criando leis absolutas e tentando impor uma vontade comum a todos. Isso é a mesma coisa que entrar numa sapataria e mandar o sujeito só vender um número de calçado, sem respeitar aqueles que possuem os pés menores. E se o sapato escolhido não cabe em nossos pés, nós somos de qualquer forma obrigados a usá-lo. E usamos.”. Nesse caso, Alex preferiu não usar, e “descalço” levou sua adolescência à sua maneira, fazendo o que lhe agradava e não se importando com o resto da sociedade, que, segundo o nosso protagonista, não dava a mínima para ele também.
Alex demonstrava um gosto refinado para música, diferente de seus druguis (amigos) e outros adolescentes. Apreciava música clássica, em especial Ludwig Van Beethoven. Além disso, tinha o dom de liderar. Sua inteligência e força o credenciavam como o líder de sua gangue. E por menor que seja seu grupo de comando, sempre haverá aquele que vai querer derrubar esse líder. Com Alex não foi diferente, traído pelos seus amigos, o jovem acaba preso, retratando assim a ânsia do homem pelo poder ou então a agonia do homem em ser comandado.
Na visão do The New York Times, a Laranja Mecânica é “uma sátira brutal das distorções das mentes individuais e coletivas”. Qual a real natureza do ser humano? Porque é tão mais fácil pensar numa coisa ruim do que o contrário? Será que só fazemos o que é certo por causa das leis que nos regem? Afinal, quem disse o que é certo? O que é certo? No livro conseguimos analisar de uma maneira bem chocante, assim como nas nossas vidas, a pressão constante sobre as pessoas, o estresse generalizado, o desejo de vingança e a capacidade de guardar rancor e ódio que cada ser humano tem.
Laranja Mecânica.O título por si só já é algo bastante impactante e de forma que ao ler a história pode ser interpretado de diversas maneiras. Quando Alex é preso e passa por um processo de “lavagem cerebral” a partir de substâncias injetadas e outros meios de alienação terapêutica realizadas pelo Governo, o jovem é então impedido de escolhas éticas como o bem e o mal, o certo e o errado, pois todas suas atitudes tinham de ser boas ou então seu próprio corpo reagia de forma negativa consigo mesmo, sentindo dores e enjôos. Para o Estado o método foi uma maravilha, pois não importa o que você pensa, quais seus desejos, desde que esses não se manifestem. Trazendo para a nossa realidade, vemos as pessoas assim também, tantos desejos e revoltas que ficam guardadas, mas não às manifestamos, muitas vezes para não se incomodar, manter um pouco de tranqüilidade em nossas vidas, fruto da grande alienação que fizeram conosco. Como uma laranjeira dando sempre frutos iguais, nem um pouco mais doce, nem mais amargo, todos mecanizados. Laranjas mecânicas.
Enfim, Laranja Mecânica por si só é espetacular devido a grande variedade de interpretações. Sua leitura é muito subjetiva e cada um guarda pra si o que conseguiu chupar dessa Laranja. Temas impactantes, polêmicos e controversos são retratados nessa obra-prima de Anthony Burgess, que apesar do tempo continua tão atual como nunca.
Recomendo!

Um comentário:

  1. Esse livro é demais! Muito "horrorshow", como diria Alex haha
    E, como tu disse, apesar de ter sido escrito em 62, continua atual.
    Realmente, um dos melhores que ja li :D

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